Valor se mantém acima da média dos últimos 4 anos, apesar de queda em relação a 2021, e confirma ritmo de devastação descontrolado, quando o bioma perdeu área maior que a Holanda
A taxa anual de desmatamento da Amazônia estimada em 2022 foi de 11.568 km2, de acordo com os dados oficiais do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa de desmatamento se refere ao período entre agosto de 2021 e julho de 2022.
Os estados que lideraram a destruição no período foram o Pará, Amazonas e Mato Grosso, com 4.141 km2, 2.607 km2 e 1.906 km2 de florestas desmatadas, respectivamente. O maior aumento de desmatamento estimado foi no estado do Amazonas com 13,1% a mais em relação a 2021.
O desmatamento na Amazônia se manteve nos mais altos patamares desde 2009, apesar de queda em relação ao registrado em 2021 (13.038 km2), consolidando a tendência de aumento descontrolado da devastação observada nos últimos quatro anos, durante o governo Bolsonaro. 2009 foi o ano em que a meta de redução do desmatamento para 2020 foi definida em 3.925 km2 para o ano 2020, no Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil. A taxa estimada esse ano é quase 3 vezes maior.
A área devastada em 2022 na Amazônia é 48,2% mais alta que a média observada nos últimos 10 anos no bioma. Nos quatro anos de governo Bolsonaro, 45.586 km2 de florestas foram destruídas – uma área maior que a Holanda ou perto de 8 vezes a extensão do Distrito Federal.
A explosão do desmatamento durante a última gestão Federal é resultado do abandono do sistema de proteção ambiental, de acordo com Raul do Valle, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil. “Nos últimos anos, o desmatamento associado a atividades ilegais aumentou exponencialmente por conta da redução de fiscalização e o desmonte dos órgãos ambientais. Os números consolidados pelo sistema PRODES sobre o desmatamento da Amazônia confirmam que é urgente a retomada dos mecanismos de comando e controle”, afirmou Valle.
“O novo governo precisa emitir um sinal claro de que nenhum desmatamento será tolerado e reconstruir todo o arcabouço de proteção que foi destruído. Esse caminho é vital para que o Brasil garanta sua segurança climática e retome seu papel de liderança nas questões ambientais, no cenário internacional”, acrescentou Valle.
Sem essa recuperação da capacidade de fiscalização e de ação dos órgãos ambientais, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno, a partir do qual ela perderá a capacidade de prover os serviços ecossistêmicos dos quais todos nós dependemos, segundo Mariana Napolitano, Gerente de Ciências do WWF-Brasil.
“Os dados consolidados de desmatamento da Amazônia do sistema PRODES comprovam o cenário dramático que o sistema DETER já apontava: o patamar dos 10 mil km2 por ano foi superado novamente, colocando a Amazônia cada vez mais perto do seu ponto de não retorno”, afirmou Napolitano.
De acordo com ela, perder a Amazônia afetaria os meios de subsistência de 47 milhões de pessoas e intensificaria a emergência climática global. “Além disso, colocaria em risco a segurança alimentar em toda a América do Sul e afetaria a agricultura em outros continentes. É essencial e viável reduzir significativamente as taxas de desmatamento até sua eliminação completa em 2030. Trata-se de um imperativo humanitário diante da dupla crise do clima e da perda em massa da biodiversidade global que a humanidade está enfrentando”, disse ela.
Setor agropecuário
A redução drástica do desmatamento e sua eliminação completa até 2025 é uma das condições essenciais para que seja possível evitar o aquecimento do planeta acima de 1,5 graus. Além da retomada das políticas públicas, recursos e condições para fiscalização e controle do crime ambiental, a redução do desmatamento e emissões não será alcançada sem a participação do setor agropecuário. O plano de ação para reduzir o desmatamento associado à produção agrícola, proposto durante a COP 27 esse mês pelas maiores traders de commodities agrícolas, é insuficiente para atingir essa meta.
A cadeia de produção de alimentos contribui com pelo menos um terço do total de emissões líquidas de GEE que estão alterando o clima do planeta. Por isso, para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, as emissões do sistema alimentar precisam diminuir em mais de 80% até 2050 – o que só será possível com uma efetiva implementação de políticas de desmatamento zero.
Desmatamento no Cerrado
No caso do Cerrado, para o período mais recente (agosto de 2021 a julho de 2022), o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (DETER), do INPE, apontou um aumento de 12,1% nos alertas de desmatamento quando comparado ao mesmo período do ano retrasado. Considerando os alertas desde o início do ano e até dia 17 de novembro, data da última atualização de dados, esse aumento foi de 23,2% em relação ao mesmo período em 2021. O DETER é um sistema de alertas em tempo real voltado para dar suporte à fiscalização e seus dados costumam ser corroborados pelo PRODES, que é o sistema responsável por medir as taxas oficiais de desmatamento.
Portanto, é esperado também um aumento no incremento de desmatamento medido pelo PRODES no Cerrado no mesmo período, mas esses dados ainda não foram divulgados. “Além dos dados do PRODES sobre a Amazônia, é essencial termos o quanto antes a publicação dos dados do PRODES Cerrado que teve um aumento de 17,5% de desmatamento nos últimos três anos, passando de 7.260 km2 em 2018 para 8.531 km2 em 2021”, disse Mariana Napolitano.
Sobre o WWF-Brasil
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