Incêndios se alastram pelas matas do Norte e Centro-Oeste e já podem ser sentidos até no céu de São Paulo.
Maior onda de queimadas dos últimos cinco anos afeta a Amazônia, Pantanal e a Tríplice Fronteira. Aliada ao mau tempo, fumaça ajuda a escurecer a capital paulista em plena tarde.
E, de repente, São Paulo escureceu. Nuvens baixas e carregadas, associadas a uma frente fria que avança do sul, segundo explicam os serviços meteorológicos, fizeram com que a tarde desta segunda-feira se transformasse em noite já por volta de 15h. Mas o mau tempo não explica por si só a escuridão que tomou a capital paulista. A milhares de quilômetros de distância, incêndios nada repentinos se espalham pelas florestas do Norte do Brasil, se estendendo pelos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando à tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai. Imensas áreas da Amazônia e do Pantanal ardem em chamas há dias. E a forte fumaça, transportada pelo vento em direção ao Sudeste, já se faz presente nos céus do Estado e “contribuiu”, segundo Marcelo Pinheiro, do Clima Tempo, para que o céu ficasse mais escuro que o normal.
O Brasil vive a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Programa Queimadas do instituto, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, registrou 71.497 focos de incêndio entre os dias 1 de janeiro e 18 de agosto deste ano. O número é 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos de incêndio. A última grande onda é de 2016, com 66.622 focos de queimadas entre essas datas.
Não está claro quando a última onda de queimadas começou. Imagens de um forte incêndio em Rondônia rodaram as redes sociais no fim de semana, assim como da capital Porto Velho submersa em uma nuvem de fumaça. Entre às 17h e 18h desta segunda, imagens de satélite em tempo real de diversas empresas e instituições internacionais —entre elas a NASA— mostravam alta concentração atmosférica de monóxido de carbono (CO) no Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O incêndio também atingiu ao longo do fim de semana partes da Bolívia e do Paraguai, que finalmente conseguiu controlar as chamas na tarde desta segunda após 21.000 hectares da reserva Três Gigantes, na região da Tríplice Fronteira, queimarem. Os mesmos satélites mostraram ao longo dos últimos dias uma forte cortina de fumaça avançando em direção ao centro-sul do Brasil.
A região está há semanas sob os holofotes internacionais. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) está publicamente em guerra com os dados do INPE que indicam um forte aumento do desmatamento na Amazônia durante os primeiros meses de seu Governo. Bolsonaro desacreditou os números e foi contestado publicamente pelo então presidente da instituição, Ricardo Galvão. O físico acabou destituído. O mandatário brasileiro, que vem sinalizando desde a campanha de 2018 para uma flexibilização dos controles de desmatamento, enfraqueceu o IBAMA e defende a mineração em terras indígenas. Também entrou em rota de colisão com países como Alemanha e Noruega, que contribuem desde 2008 para o Fundo da Amazônia, um dos responsáveis por financiar projetos de preservação da floresta brasileira. Os repasses de dinheiro foram suspensos.
Fonte: El País