Mais de 40 milhões de vozes da área da saúde clamam por um meio ambiente saudável ao G20 no contexto da pandemia
Carta foi encaminhada, nesta semana, aos líderes do grupo das 20 nações com as maiores economias mundiais, incluindo o Brasil, e clama pela necessidade de combate à poluição atmosférica
“…Antes da Covid-19, a poluição do ar – principalmente originária do tráfego, uso residencial ineficiente de energia para cozinhar e para aquecimento, usinas a carvão, queima de resíduos sólidos e práticas agrícolas – já estava enfraquecendo nossos corpos. A poluição aumenta o risco de desenvolvimento e a gravidade de: pneumonia, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer de pulmão, doenças cardíacas e derrames, levando a sete milhões de mortes prematuras a cada ano. A poluição do ar também causa resultados adversos na gravidez, como baixo peso ao nascer e asma, colocando mais pressão em nossos sistemas de saúde…”. É possível ficar alheio a uma exposição desta envergadura?
As lideranças dos 20 países com as maiores economias do mundo receberam, nesta semana, uma carta encaminhada por mais de 350 organizações representando mais de 40 milhões de profissionais de saúde e de 4.500 profissionais de saúde individuais de 90 países, em que este alerta faz parte. O teor principal do conteúdo é o “clamor” para que estas nações voltem seus esforços à priorização da Saúde Pública nos planos de recuperação econômica em consonância com a ambiental, com o advento dos efeitos em curso da pandemia da Covid-19.
O objetivo é que haja sensibilidade robusta por parte dos governantes e de seus gestores de saúde, ambientais, de ciência e tecnologia e desenvolvimento econômico, entre outras pastas, a este clamor, pois o tempo é cada vez mais escasso, nesta conjuntura. Posições de ceticismo quanto às questões ambientais/climáticas, em especial no Brasil e EUA causam temor no contexto internacional. Os dois países integram o G20 com a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Europeia.
Como ponto central, os profissionais de saúde reforçam a necessidade emergente do combate à poluição atmosférica, às mudanças climáticas, devido ao uso ainda indiscriminado de combustíveis fósseis. O caminho para isto: fim dos subsídios ao setor de petróleo e gás e ampliação dos investimentos em energias renováveis. Esta postura, de acordo com os signatários, pode possibilitar uma recuperação econômica que estimularia ganhos globais de quase US$ 100 trilhões até 2050.
Como a carta destaca – anualmente, morrem na casa de 7 milhões de pessoas, em decorrência da poluição. Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde chegou a lançar o estudo “Saúde Brasil 2018”, no ano passado, no qual, mortes classificadas como decorrentes da poluição do ar aumentaram 14% em dez anos. A proporção foi a seguinte: 38.782 em 2006 para 44.228 mortes em 2016.
Com a pandemia, os argumentos vêm da experiência de chão diária. A realidade com doses de fragilidade global no contexto da saúde aumenta exponencialmente, envolta pelas mortes, sequelas e sofrimento mental, que se somam à segurança alimentar e de empregabilidade. “…Esta composição nesta extensão e crescimento exponencial em níveis não observados em décadas…”, reforça a carta. Segundo a OMS, até o último dia 27 de maio, foram confirmados no mundo 5.488.825 casos de COVID-19 e 349.095 mortes, sem contar as subnotificações.
Nesta carta ao G20, o Brasil está representado neste “clamor”, pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), o Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo (SINESP), a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e a Federação Internacional das Associações dos Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA Brazil).
A iniciativa é apoiada pela OMS, que também divulgou um manifesto, no qual reforça a recomendação quanto ao fim do subsídio aos combustíveis fósseis. O documento expõe a premissa da saúde saudável da humanidade dependente da conservação da natureza, que incorpora o ar que respiramos, a água, os alimentos saudáveis, acesso a condições dignas de saneamento e à energia limpa; como também ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Para a implementação destas diretrizes, o planejamento urbano é avaliado como de suma importância com a integração da saúde com um sistema de transporte sustentável a moradias saudáveis. Tedros Ghebreyesus, diretor da OMS, afirma que não resta dúvida de que a reconstrução pós-Covid-19 deve ser uma reconstrução para um mundo mais verde.
*Sucena Shkrada Resk – jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.