Um estudo lançado recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU) revelou um cenário futuro alarmante: locais com terra fértil em condições de plantio devem se tornar mais escassos em todos os pontos do planeta. A erosão, provocada pelo manejo incorreto do solo foi responsável por uma perda de 23% na produtividade no mundo e uma perda de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) anual mundial em 2010, período de referência do estudo. Atualmente, cerca de 33% da superfície e 75% da água doce do planeta são destinados à produção agrícola ou à pecuária.
A previsão, elaborada pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema (IPBES), da ONU, é a de que em 2050, mais de 4 bilhões de pessoas vivam em zonas áridas forçando movimentos migratórios de milhões de pessoas. Se o cenário se cumprir, haverá a redução de até 50% dos rendimentos mundiais referentes à agricultura. A maior parte da degradação ocorrerá na América Central, América do Sul, África e Ásia, locais que concentram maior quantidade de solo adequado para o cultivo.
O diretor de Conservação do WWF-Brasil, Edegar de Oliveira Rosa, reforça que a perda de solo prejudica o produtor e o meio ambiente. “O produtor perde produtividade e lucro e o meio ambiente é prejudicado, uma vez que a menor eficiência de produção levará a conversão de novas áreas de vegetação natural. Além disso, a perda de nutrientes e o assoreamento dos rios causam prejuízos à biodiversidade, à produção e às comunidades, que dependem dos recursos hídricos afetados”, afirma Rosa.
CENÁRIO BRASILEIRO
No Brasil, 72% da água e 41% do território – 350 milhões de hectares – são destinados à agropecuária. Desse total de território, 18% já estão degradados, segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um dado do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig-UFG) de 2017 revela um cenário ainda mais preocupante: 63,7 milhões de hectares de pastagens estão produzindo abaixo do esperado.
“Em um estágio crítico, a degradação do solo poderia avançar para o aumento da desertificação, o que caracteriza-se por solo infértil e com baixíssimas concentrações de nutrientes, dificultando ou inviabilizando a prática da agricultura e a produção de alimentos para a população. Esse processo também causaria uma desfiguração de importantes elementos da paisagen, potencializando mudanças climáticas e escassez hídrica”, explica Edegar Rosa. “Além disso, o manejo não sustentável da terra causou e continua causando a perda significativa da biodiversidade mundial e dos serviços ecossistêmicos: segurança alimentar, purificação da água e da energia alcançado níveis críticos”, completa Rosa.
O estudo da ONU defende que, em média, os benefícios financeiros da conservação do solo são 10 vezes superiores aos custos para a restauração da área. Segundo o diretor de Conservação do WWF-Brasil, a única estratégia para reverter o quadro é melhorar o manejo do solo de áreas produtivas e reabilitar área degradadas. “Temos 37% das nossas pastagens altamente degradadas, produzindo muito abaixo do potencial. Melhorar o manejo do solo é a melhor estratégia para atender a demanda crescente de alimentos. Agindo assim, não precisaremos abrir nem mais um metro quadrado de vegetação nativa para a produção de alimentos”, assegura o diretor de Conservação do WWF-Brasil.
Por Renata Peña – WWF