O instinto natural do ser humano de se proteger, faz com que queiramos fugir de notícias difíceis de lidar e, mesmo que não consigamos fugir de uma ou outra notícia aqui e ali, entramos em negação em relação ao que não conseguimos lidar, o que nos assusta, nos causa medo.
É mais fácil negar até mesmo a ciência e os fatos quando não conseguimos lidar com nosso medo em relação às alterações climáticas e o aquecimento global. Nos iludimos que estamos protegidos, que não é real, que são só notícias alarmistas ou que não tem fundamento para não lidar com o que não conseguimos processar, mas as consequências de vivermos assim já estão aí, são reais, estão acontecendo e se não conseguirmos começar a ouvir a ciência, muitas delas só vão ser mais intensas, mais graves e nos tornar realmente muito mais vulneráveis do que já estamos.
O tipo de negação mais natural é acharmos que se faltar água ou houver escassez de alimentos, por exemplo, não estaremos mais aqui, então tudo bem, vamos viver o agora e se começar a faltar agora tudo bem, afinal podemos comprar o que precisamos. Ok, tudo ficará mais caro, mas temos trabalho, temos condições de sobreviver e esse tipo de negação é o mais grave porque nos torna individualistas e irracionais já que muitos de nós podemos sim pagar para ter o que precisamos, mas quando pensamos assim, esquecemos dos milhões de pessoas pelo mundo que não podem pagar e para quem a fome, a sede e a falta de recursos de sobrevivência já é real. É desumano ignorar isso, além de irracional, já que a natureza não é elitista, ela não se importa com títulos, cargos, posição social ou renda e quando as consequências de nosso estilo de vida a transformam, ela simplesmente reage e faz seu papel, afetando a todos de maneira indistinta.
Claro que a corda arrebenta primeiro do lado mais fraco, a desigualdade social existente no mundo inteiro, faz com que os menos favorecidos sejam impactados primeiro. Eles na maioria das vezes, não podem pagar nem mesmo por um prato de comida para sobreviver, mas quando pensamos em eventos climáticos extremos, se olharmos com atenção, veremos que quem tem mais, muitas vezes também perde tudo o que tem de material ou até mesmo a vida e, se sobrevive, acaba junto com quem tem menos esperando ser resgatado.
As alterações climáticas, os eventos climáticos extremos já estão aí, estão acontecendo e não temos como fugir das consequências por mais que evitemos as notícias. Não olhar para o que acontece, não vai fazer com que deixe de acontecer.
A única mudança possível nesse cenário depende de mudanças de atitudes de cada um de nós e mesmo assim o impacto que já causamos ao planeta em certos aspectos é irreversível e em outros necessita de mudança em larga escala e com muita urgência.
Basta de combater a ideia do aquecimento global com argumentos que falam de frio extremo como se uma coisa não fosse consequência da outra. Temos informação suficiente e acesso a elas ao alcance de todos com uma simples busca na internet, mas precisamos parar de negar os fatos e de desmerecer a ciência. A mesma ciência que hoje prolonga nossa estimativa de vida, que nos cura de doenças, que está dentro da nossa casa nos atendendo e dando suporte mesmo nas tarefas mais simples, que nos proporciona entretenimento, nos permite ser vacinados para nos proteger em uma pandemia e nos possibilitou até hoje ter uma melhor qualidade de vida, é a que está nos dizendo que precisamos mudar nosso jeito de viver e de consumir ou não terá ciência e tecnologia que possa nos proteger do que já está acontecendo e já é consenso que vai piorar muito.
Tivemos nos últimos tempos temperaturas de quase 50°C no Canadá, chuvas torrenciais e enchentes na Europa e na China com centenas de vidas perdidas, incêndios cada vez mais intensos na Califórnia, frio extremo em regiões onde isso jamais aconteceria, escassez de água em diversos países tornando a agricultura impossível e gerando fome, derretimento acelerado de calotas polares aumentando o nível do mar colocando regiões costeiras em risco, vida marinha em risco com a acidez dos oceanos se acelerando, micros plásticos nos oceanos, na chuva e em nossos pratos, doenças praticamente extintas ressurgindo, extinção de fauna e flora por todos os lados, um novo vírus causando uma pandemia que é só uma das que ainda virão, tornados e furacões cada vez mais intensos, refugiados do clima em diversas regiões do mundo e se tudo isso não é a constatação de que tudo o que a ciência tem nos alertado há anos é real, o que nós precisamos para acreditar?
É difícil realmente nos tornarmos conscientes de tudo isso, é assustador observar o que vem acontecendo. Causa pânico e queremos fugir, mas para onde podemos fugir das consequências? Não temos um plano B para o planeta, não temos um plano B para as dificuldades que as gerações que estão crescendo agora vão enfrentar e essa geração são nosso filhos, nossos netos e outra consequência que não teremos como fugir é a de que no futuro, quando estiverem passando por dificuldades que hoje não queremos enxergar, talvez eles olhem para trás e se perguntem que tipo de amor nós sentíamos quando sabíamos das dificuldades que eles passariam e não fizemos nada para impedir que acontecesse. Que tipo de humanidade e empatia nos moviam enquanto assistíamos o povo do nosso planeta, nossos irmãos, serem castigados pela fome, pela miséria e as doenças que elas trazem enquanto esgotávamos os recursos naturais essenciais à sobrevivência de todos cada ano mais cedo, deixando todos pendurados no cheque especial do planeta e do clima, pagando juros cada vez mais altos?
Não existem ações sem consequências, assim como não existe uma individualidade real. Somos parte de algo maior, nossas vidas estão diretamente interligadas com outras vidas e dependemos uns dos outros para sobreviver. Saber da miséria do outro talvez não nos torne mais solidários ou humanos ao ponto de nos importarmos o suficiente para mudar o que pudermos, mas jamais, em tempo algum poderemos fugir das consequências disso porque nossa existência, nossa sobrevivência e a manutenção da nossa vida é impossível de ser mantida sem os outros, assim como é impossível ser mantida sem os recursos naturais básicos que estamos esgotando.
Dependemos da natureza para estar aqui, mas ela não depende de nós para existir. Nos achamos onipotentes, mas somos nada perto da força dela e da capacidade que ela tem de se transformar, se adaptar e continuar mesmo que não exista um único humano na terra.
Por: Denise Maldonado – Mundo Certo, empresa atuante no mercado de Sustentabilidade desde 2010. transformando desafios em possibilidades, disponibilizando materiais criados para ampliar a conscientização sobre a importância da Sustentabilidade para todas as idades e realizando projetos para empresas, escolas e outras entidades que possibilitem a inclusão social, geração de renda, criação de empregos, utilização de produtos ou resíduos como forma de gerar renda e desenvolver pessoas, entre outros.
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